sábado, 22 de janeiro de 2011

Ó Cristão, Toma Consciência da sua Dignidade


Como de costume, o início de 2011 foi marcado por muitas festividades, votos de feliz ano novo, roupas brancas, sentimentos de saúde, desejo de prosperidade e oferendas as mais variadas crenças. Eis um tempo no qual a sacralidade da vida fica a mercê de previsões como o tarô, o jogo de búzios, a numerologia e por fim, a quiromancia. Trata-se de práticas cujo único objetivo é controlar o futuro. Como se fôssemos senhores da história e como se pudéssemos deter as ações vindouras. Alguns custam lembrar que o Pai Eterno é o detentor do tempo e mesmo assim Ele age com muita prudência e cautela antes de qualquer intervenção. Na verdade, Ele só intervém quando nos abrimos ao Seu amor, acolhemos a Sua graça e nos consagramos ao Evangelho da verdade. Deus não é nenhum tirano, pelo contrário, é eternamente Pai.
Muito mais que símbolos e crendices, o ano novo deve ser assumido como um tempo de esperança. Momento único para renovarmos nossa vida à luz da salvação, tendo como itinerário a vida de Jesus. Ser cristão solicita de nós um testemunho coerente a serviço da fé. Não é lícito protelar o dom da conversão e continuar com atitudes antigas de pecado, maledicência e ódio no coração. Determinados pecados de estimação devem ser transformados pelo crivo do esforço na luta contra o mal. Aquele que assume a vida cristã precisa se comportar como nova pessoa, levando, por meio de atitudes, não só de palavras, a experiência com o amor do Pai.
Aquele que sente na alma a potência do amor Divino é capaz de resignificar a sua própria existência, bem como a das demais pessoas que lhe são próximas. A luz existe para brilhar, do mesmo modo que o sal para salgar. O cristão é luz e como tal suas ações devem ser vistas como continuidade da missão redentora de Jesus. Cristo existe por Si, mas sua essência também é propagada por meio dos seus seguidores.
Aqui cabe o saudoso lembrete: “É necessário deixar Cristo existir em nós”! Ele não é um dado do passado, mas, sobretudo, uma atualização no presente. Eis um lema que deve permear a vida, genuinamente, entregue nas mãos do Pai: confiada em Seu amor e depositada em Sua esperança.
Aquele que é capaz de se oferecer a Deus tem a missão de ser embaixador da fé no mundo. Por este caminho, o cristão torna-se Evangelho vivo, pois o atualiza na espiritualidade do cotidiano. Já não há espaço para o cultivo do ódio, para a feição do rancor ou para a ausência do perdão. Tornamo-nos pessoas mais centradas e resolvidas. O tempo é enfocado como precioso. Por isto não o perdemos com desavenças e rixas sem sentido.
O ano novo deve ser festejado e, além do mais, vivenciado como uma nova oportunidade que a vida nos concede para sermos melhores. Precisamos nos agarrar às Sagradas Escrituras e refleti-la em comportamentos coerentes. No início de 2011 façamos, com humildade, uma sincera revisão de vida. Que tenhamos a coragem de ir às raízes de nossas atitudes pecaminosas e transformá-las pelo critério do amor. Acima de todos os problemas existe um Deus que nos ama e se compadece pelo nosso sofrimento. “Quem nos separará do amor de Cristo? A tribulação? A angústia? A fome? A nudez? O perigo? A espada? Em todas essas coisas somos mais que vencedores pela virtude daquele que nos amou. Pois estou persuadido de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem o presente, nem o futuro, nem as potestades, nem as alturas, nem os abismos, nem outra qualquer criatura nos poderá apartar do amor que Deus nos testemunha em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rm 8,35.37-39).
Ano novo exige atitudes novas, coração novo e um novo modo de pensar a vida. Sejamos coerentes com o compromisso assumido no Batismo, quando aderimos à proposta cristã e nos inserimos na vida de Cristo. Façamos jus à dignidade que o Pai Eterno nos deu quando nos tornamos cristãos. Não somos meros seguidores. Somos continuadores do próprio Cristo. E por Ele é necessário se gastar e se consumir no amor incondicional ao próximo, na partilha da existência e na oferta de si à Obra da evangelização! Não percamos tempo em amar! Nunca é tarde para fazer o bem, de forma livre e incondicional.
Pe. Robson de Oliveira Pereira, C.Ss.R.
Missionário Redentorista, Reitor da Basílica de Trindade e Mestre em Teologia Moral pela Universidade do Vaticano.

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